Teologia musical: a verdade nas melodias

Coral na Igreja St. Katharine Drexel em Chester, EUA, conduzindo o canto da assembleia durante a missa. (CNS photo / Sarah Webb, CatholicPhilly.com)

11 de Setembro de 2017

 

Considerar a música como comunicação teológica é uma maneira de olhar a música que desafia muitas das nossas noções recebidas.

 

Por Rita Ferrone


Nos últimos anos, pensadores como o musicólogo de Cambridge Jeremy Begbie (Música, Modernidade e Deus, Verdade Ressoante, Teologia, Música e Tempo) e a teóloga especialista em música Maeve Louise Heaney (Música e Teologia) contribuíram para uma crescente conversa sobre a música como parte da linguagem da teologia. Eles argumentam de várias maneiras que a música diz coisas sobre Deus que realmente não podem ser ditas de outra maneira, e que, portanto, a música deve ser melhor compreendida em seu papel único dentro da comunicação da fé. A música é mais do que um envelope para uma mensagem religiosa, é parte da própria comunicação. Usamos a música e somos afetados pela música, teologicamente. Mas o fato é que não refletimos muito sobre isso e deveríamos fazê-lo.

 

No inverno passado, tive a chance de testar a hipótese de que a música é mais do que o envelope para um texto religioso, realizando um pequeno experimento em um seminário para diretores de música paroquial. Nós olhamos para o texto clássico do hino de Frederick Faber, "A grandeza na misericórdia de Deus" (1862) e nos perguntamos o que isso significava, simplesmente olhando as palavras. Então cantamos o texto em duas melodias diferentes: In Babilone e St. Helena e novamente fiz a mesma pergunta. O que esse texto significou?

 

O grupo não rejeitou nenhuma das versões, ou achou uma melodia como "errada" e a outra como "certa". Porém, o significado do texto claramente mudou quando fizemos a música. Em uma (In Babilone) sentimos a alegria brilhante do sol e a energia de uma melodia, enquanto no outro (St. Helena) sentimos as correntes das ondas oceânicas e o admirável mistério. St. Helena, escrita por Calvin Hampton especificamente para este texto, enfatizou suas palavras teológicas chave (misericórdia, justiça, etc.) com mudanças de notas. A transição para a parte do mistério pascal do texto foi sublinhada na melodia. In Babilone, por outro lado, resultou em uma simplicidade direta e foi fácil de cantar.

 

Se a questão que refletimos é: "O que é fácil de cantar?" In Babilone ganhou, sem dúvida alguma. Todavia, assim que nos perguntamos "como é a grandeza da misericórdia de Deus? Como recebemos isso?" Nossa resposta muda. Essas perguntas foram respondidas mais profundamente pelo canto de St. Helena. A diferença não estava no texto, mas na música.

 

Considerar a música como comunicação teológica é uma maneira de olhar a música - particularmente a música litúrgica - que desafia muitas das nossas noções recebidas. Alguns pensam em música como decoração ou embelezamento de formas rituais. A música pode naturalmente nos encantar com a sua beleza, mas essa é uma questão diferente. Tampouco significa o mesmo louvar o valor da música como um auxílio da memória. Eu já ouvi afirmações sobre a relevância da música litúrgica a partir da importância das pessoas se lembrarem da mensagem da música: "Ninguém nunca vai para casa depois da Missa cantando a homilia". Isso é verdade, mas é um tipo diferente de observação.

 

Não é o mesmo entender o valor da música como um exercício de construção da comunidade - embora a música compartilhada e a música ouvida em conjunto sejam uma ferramenta poderosa para a construção da comunidade. Para refletir sobre a música, a teologia deve, em vez disso, considerar a música como um tipo especial de testemunho da verdade.

 

A música não se auto interpreta. Mas também a música não se compõe das nossas formulações teológicas e verbais mais abstratas. O credo e o catecismo nunca estão sozinhos: exigem uma comunidade de fé credível que os testemunhe, e uma vida de oração que festeja e viva em diálogo com eles, para ter sentido.

 

A questão de como a música se comunica teologicamente tem consequências práticas para as comunidades de fé. Se assumirmos seriamente a música como comunicação teológica, achamos que temos que trabalhar mais para melhorar a música em nossas paróquias. A música pobre na igreja não é apenas uma experiência estética lamentável, pode realmente dizer coisas sobre Deus que não queremos dizer.

 


Commonweal Magazine - Tradução: Ramón Lara

 

Rita Ferrone é autora de vários livros sobre liturgia, incluindo 'Liturgy: Sacrosanctum Concilium' (Paulist Press).

 

 

Fonte: http://www.domtotal.com

 

 

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