Estamos numa sociedade que coloca a vontade humana acima dos valores da convivência.
07 de Junho de 2015
É próprio da serpente rastejar. Passar perto dela pode ser perigoso devido a seu veneno, que pode ser mortal. No texto bíblico vemos a figura desse animal colocado como tentador para os primeiros seres humanos da terra (Cf. Gênesis 3,9-15). A lenda da serpente, que exercia domínio sobre os homens, fez o autor bíblico colocá-la como protótipo da tentação do endeusamento humano, deixando o verdadeiro Deus de lado. O ser humano sem Deus se vê nu, com a falta, não de roupa, mas de proteção e sentido para a vida.
Estamos numa sociedade que coloca demais a vontade humana e o individualismo acima dos valores da convivência na justiça e solidariedade. A própria manifestação religiosa, se enfocada predominantemente na busca de algo para si, sem dar de si, por causa do Criador, para o serviço ao outro, perde o enfoque da fé atuante e transformadora da vida.
O veneno da serpente que rasteja faz com que o ser humano também tenha vontade de rastejar, olhando a vida com o objetivo no que é material, terreno e de conquista do transitório como fosse permanente. Faz com que o humano se animalize e perca o sentido da história, da dignidade da vida e de sua imagem e semelhança com Deus.
O Criador faz tudo bem e cuida do universo, criatura sua. Dá ao ser humano a incumbência de cuidar da terra e da convivência com o semelhante e a natureza com o mesmo carinho com que Ele toma conta de tudo.
Mas é preciso assumir as virtudes da humildade e da obediência. A própria ciência é o uso da Inteligência para descobrir as leis, os valores e os benefícios da natureza para o serviço à humanidade. Ela se coaduna com Deus e a fé, para ser instrumento de promoção da vida de qualidade a todos. A humildade faz a pessoa humana saber que não é deusa e que os outros são irmãos, que precisam ser amados, conforme a vontade do Pai comum.
A obediência sempre traz resultado positivo para a pessoa que não é dura de cabeça, ou seja, que aceita a verdade de si, da natureza, do outro e de Deus. Ninguém é deus no lugar do verdadeiro Deus. Ele é o tudo, que dá condição à vida e às qualidades humanas. Estas devem ser usadas conforme o projeto do Criador. Ao contrário, o ser humano se torna desumano, rastejando na pequenez de seu egoísmo, desacerto e pecado. Aliás, quando alguém faz o mal aos outros, o faz com consequências danosas para si mesmo: “Aqueles, porém, que cometem o pecado e a injustiça são inimigos de si mesmos” (Tobias 12,10).
Quem percebe e vive com o sentido da vida apresentado pelo Criador, não desanima em praticar o bem, evitando os venenos das serpentes enganadoras e danificadoras. Trabalha para a superação dos mecanismos de morte na sociedade. Não cede ao mal. Promove o bem da vida e da dignidade humana, a despeito de toda uma avalanche em contrário, propondo o consumismo, a busca de benesses e prazeres colocados como finalidade de vida, desrespeitando os humildes, os deixados de lado no convívio social digno...
Além de não rastejar ou se deixar levar pela visão estreita da vida, ajuda o semelhante com a prática e o anúncio de valores promotores da vida de sentido. Sua fé o leva a transmitir aos outros aquilo que tem convicção de ser bom: “Acreditei e, por isso, falei” (2 Coríntios 4, 13).
Jesus foi sempre obstinado em executar a vontade do Pai. Mesmo criticado, perseguido e incompreendido, levou a efeito sua missão de implantar critérios e valores que façam o ser humano olhar para o alto, ou o sentido da vida passageira na terra, para mostrar o tesouro do Reino de Deus, que dá vida plena ao ser humano.
Fonte: www.domtotal.com