17 de Outubro de 2016
A fala de Paulo, da Carta aos Gálatas 2,10, é uma fala que devemos ter ecoando em nós, tal como um mantra. É preciso encarnar, em nós, o cuidado pelos empobrecidos e empobrecidas do mundo, se nos reconhecemos como cristãos e cristãs. Esse cuidado, no entanto, precisa ser não apenas o do gesto caritativo, mas o de denúncia e de transformação das estruturas que geram injustiças. Lembro-me, nesse contexto, da conhecida frase de Dom Helder Câmara: “Quando alimento os pobres, chamam-me de santo. Quando pergunto por que são pobres, chamam-me de comunista”.
Se não nos perguntarmos pelas causas da pobreza, buscando transformá-las desde dentro, não seremos fiéis à opção que Deus fez, desde sempre, e que se plenifica em Jesus: a salvação de todos e todas, a começar pelos empobrecidos e empobrecidas. Já há algum tempo temos usado esse espaço para tratar sobre esse assunto, como os fiéis leitores e leitoras podem ter já percebido. O caminho para a transformação de nosso país, entretanto, exige que não nos calemos e que não deixemos de pensar sobre essas coisas. O empobrecimento de tantas pessoas, nesse país que assume papéis de liderança no ranking de desigualdade social, precisa, todos os dias, estar em nossa pauta.
Se, na última década, demos passos importantes no combate à extrema pobreza e no processo de inclusão social de camadas e camadas populacionais, antes excluídas de tudo, é também verdade que não criamos as bases para a libertação das consciências desses milhões de novos incluídos, para que percebessem a causa de sua própria pobreza e não a aceitando jamais. Hoje, quando a agenda do atraso toma conta do país, essas pessoas ficam a ver navios e, até o momento, à espera de que a banda passe. A banda passará, e desse cortejo fúnebre, só ficará, por um longo tempo, a sujeira do caminho. Quem a limpará?
Querem congelar, por 20 anos, os investimentos sociais. Querem vender, mais uma vez, nossa riqueza nacional, a verdadeira ponte que nos garantiria melhorarmos os índices de ofertas de saúde e de educação em nosso país. A ponte para o futuro, apregoada pelos vendilhões do templo, coloca-nos diretamente no passado, aquele do qual não temos nenhuma saudade. O passado de primeiras-damas, que dão lição às mulheres de que não deveriam, de modo algum, tornarem-se protagonistas de sua própria história e da história de seu povo; o passado em que, no lugar de políticas públicas garantidas pela rasgada Constituição, tem por bandeira o engodo de que queremos crianças felizes.
Enquanto os donos do poder se banqueteiam, na promoção da venda do país e na adesão à volta ao passado, nós precisamos, com real urgência, buscar alternativas que nos garantam a soberania de ser povo. Um caminho irrenunciável, para isso, é o da educação. Educar para a liberdade, para autonomia, para a transformação da realidade injusta.
Façamos nossa opção e não nos esqueçamos dos pobres. Mais: não nos esqueçamos das causas que geram pobreza. Resistamos!
*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). Escreve às segundas-feiras. E-mail para contato: [email protected].
Fonte: http://www.domtotal.com