Laudato si: não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental.
02 de Mar�o de 2017
Com a proposta de transformação social com formação da consciência, a Campanha da Fraternidade 2017 traz como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”. Lema: “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15). A iniciativa quer despertar a sociedade para a preservação dos biomas.
O Brasil abriga as maiores reservas de água doce e um terço das florestas tropicais que ainda restam no planeta. O país tem seis biomas e uma das biodiversidades mais ricas do mundo: Amazônia, Caatinga, Pantanal, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa. Todos estão ameaçados por poderosos grupos econômicos. Madeireiros, fazendeiros e agentes do agronegócio avançam com voracidade sobre eles. Governos e empresas não estão preocupados com a vida e os destinos dos seus habitantes.
A crise dos biomas é muito mais grave que a extinção de espécies, pois resulta da destruição dos ambientes naturais onde elas surgem e se desenvolvem. Com a destruição de seus habitats naturais, elas desaparecerão. Caatinga e Amazônia estão entre os ecossistemas mais sensíveis ao câmbio climático; além das condições naturais, a pobreza aumenta riscos no Semiárido. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a Caatinga já perdeu 46% de sua cobertura florestal. Estas regiões podem sofrer extinções em massa.
Entendendo o termo bioma. Sua origem é grega, composta pela junção de bios (vida) e oma (grupo, massa) e foi usado pela primeira vez em 1916 pelo botânico Frederic Edward Clements. Em linhas gerais, bioma é uma área geográfica de grandes dimensões (acima de milhão de quilômetros quadrados) que se caracteriza por certa unidade climática, fauna, vegetação e flora semelhante (não necessariamente uniforme), organismos vivos associados e outras condições ambientais, como altitude, solo, alagamentos e salinidade. Estas características lhe conferem uma ecologia própria. Como todos os ecossistemas, os biomas são essenciais para manter o equilíbrio no planeta. Esta perspectiva é importante quando se considera o valor da biodiversidade, pois se trata de uma extraordinária riqueza que pertence à humanidade. Preservar, além de ser um exercício de cidadania, é uma ação de comprometimento com a Criação de Deus, como ensina o Papa Francisco na Encíclica Laudato si. Defender a vida é conjugar o cultivo ao cuidado da criação.
A ecologia integral está no centro da reflexão sobre os biomas. Porque “não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental” (Laudato si, n. 139). Sua preservação não se limita a uma questão ambiental, mas envolve a justiça, a sobrevivência dos povos e suas expressões culturais. Biomas e vida humana formam um grande e complexo todo. Há uma rede de relações que ligam e religam todos os seres vivos. Esta visão integral envolve política e economia, cultura e educação, ciência e ética. A inserção da dimensão sociopolítica vincula a preservação dos biomas com a justiça social. Todo processo de exploração insustentável compromete a vida dos mais pobres e as culturas locais. Desigualdade social e degradação ambiental são inseparáveis. Os gemidos da natureza saqueada se unem aos dos povos que nela habitam.
A mudança de comportamento e a conscientização a respeito da importância dos biomas dependem de uma educação para a ecologia integral. Envolve, portanto, “todos os ambientes educacionais, por primeiro a escola, a família, os meios de comunicação, a catequese” (Laudato si, n. 213). Não se pode subestimar a importância da educação ambiental capaz de incidir sobre gestos e hábitos cotidianos, da redução do consumo de água, de separação do lixo até apagar as luzes desnecessárias (Laudato si, n. 211).
A ecologia integral é feita de simples gestos quotidianos. A Campanha da Fraternidade acontece durante todo o ano, não apenas na Quaresma. Por isso seu Texto Base lista algumas propostas de ação concreta: Incentivar a criação de um Projeto de Lei proibindo o uso de agrotóxicos; estimular o desenvolvimento de projeto de preservação, recuperação e valorização das frutas e ervas medicinais; reforçar as articulações e resistências dos povos tradicionais (indígenas/quilombolas) nas mobilizações por direitos e regularização de seus territórios; promover campanhas de conscientização quando ao descarte adequado dos resíduos sólidos e esgotos sanitários, para preservar os rios, lagoas e igarapés.
*Élio Gasda: Doutor em Teologia, professor e pesquisador na FAJE. Autor de: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016).
Fonte: http://www.domtotal.com